terça-feira, 13 de março de 2018

Sobre realidades paralelas e a Magui que nunca serei



Existe uma teoria sobre realidades paralelas que diz que cada passo nosso abre e fecha portas, e que as que se fecham permanecem em algum lugar guardando as escolhas que não fizemos e as rotas que não pegamos. Às vezes, paro pra divagar sobre isso e me perco na imaginação, tal qual fazia quando era criança. E hoje está chovendo, então a janela e o cheiro da terra molhada me convidam a refazer esse exercício.

Olhando pras gotas caindo lá fora, me pergunto onde estará agora a Magui que não se mudou pra Igrejinha, a Magui que não parou de tomar Gardenal e de convulsionar, a Magui que voltou pra cidade natal dos avós e ficou por lá, morando na “colônia”. Vejo a Magui que já tem filhos e cuida da casa esperando o marido chegar do trabalho, vejo a que decidiu não fazer faculdade e virou hippie, e a que disse “não” ao convite do melhor amigo e não entrou pro LEO.

Essa, especificamente, me aperta o coração, por tudo que não viveu. Ela não descobriu o valor de um abraço apertado, não encontrou os melhores amigos e amigas que poderia ter, não viveu um ano pra recordar, não aprendeu a despir-se de preconceitos, nem a falar em público – ainda gagueja em conversas com estranhos, acreditam?

Ela com certeza vai a algumas festas, mas perdeu as festas temáticas, com performances, DJs péssimos e companhias inigualáveis. Ela nunca acampou, não tem barraca e colchão de ar, e fez uma ou duas excursões na vida (apenas no tempo da escola). Ela ainda joga lixo no chão (que vergonha!), fala interrompendo as pessoas, e se achar um pin na rua vai deixar lá porque não sabe o valor que essa pequena joia carrega. Ela sonha em conhecer uma praia do Nordeste, arrumar um namorado perfeito, ter uma casa, amigos pra vida inteira e estabilidade financeira. Eu já risquei quase todos esses sonhos do diário e incluí outros maiores lá, ao lado da estabilidade financeira (porque, né, estamos sempre em busca).

A Magui que não entrou no LEO é feliz? É sim. Tem uma vida tranquila, assiste novela todo dia, trabalha, fica com a família nos finais de semana, e de vez em quando para na janela, olhando a chuva e pensando em “como seria se...”. Olho pra ela daqui e o coração ap2erta, pensando que eu poderia estar lá, que a chuva que cai nas nossas janelas é a mesma, mas a pessoa que olha pra janela daqui tem uma visão de mundo maior, uma bagagem de vida e de amor maiores e uma infinidade de bons momentos pra lembrar... E são tantos, que nem consegue escolher um só, prefere pensar em teorias loucas como essa pra falar da própria história dentro do movimento que a tornou a pessoa que é.

CLEO Margrid Geli Oliveira Vendruscolo (Magui)
LEO Clube Igrejinha
Distrito LEO L D-2
Outubro de 2017.

* instrução vencedora do concurso de instruções do primeiro trimestre do DM LEO L D, AL 17/18

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